O trabalho que pretendo desenvolver em Práticas da Escultura visa suplementar a disciplina de Projecto (Escultura), centra-se essencialmente nos vícios e necessidades que mais me caracterizam e tenciono explorar como estes actuam no meu “estado” consciente e inconsciente. O interesse por este tema veio pelo simples facto de me encontrar em situações e comportamentos que não são fáceis de deixar, controlar e para além de já ter tido a coerência de o fazer, deparo-me sempre com grandes dificuldades. Perante este conceito, é importante dizer que, vou ter de me focar em assuntos e situações específicas de mim para facilitar a minha pesquisa e desenvolvimento do trabalho a nível plástico, pois o que quero explorar pode-se tornar muito complexo e abrangente.
Após várias pesquisas de auto-representação psicológica, na qual retratei, a nível plástico, as minhas mudanças de humor, deparei-me com a necessidade de explorar os meus vícios e necessidades, pois estão presentes no meu dia-a-dia tanto íntimo como social.
Através de um vício criamos comportamentos automáticos e nestes perdemos a capacidade de estarmos cientes de nossas atitudes. As necessidades, segundo a minha análise, ainda não chegaram a uma classificação tão “forte” como o vício, pois perante estas estamos mais conscientes e temos atitudes mais controladas, porém não são, tão diferentes, porque de uma maneira ou de outra elas tornam-se quase imprescindíveis no dia-a-dia de cada um. Esse defeito ou imperfeição, essa tendência de contrariar a moral estabelecida, esse hábito e dependência pecaminosa, essa obrigação imprescindível, essa impossibilidade de deixar de agir e muito mais, traz um conjunto de prazeres e desprazeres que quero explorar no campo artístico, que quero desenvolver num projecto a evidência de comportamentos automático que inconscientemente se tornam vícios ou necessidades.
Este trabalho requer alguma pesquisa no campo psicanalítico, daí ter recorrido a algumas obras de Freud para abranger outros conhecimentos sobre o assunto em questão. Segundo Freud, o nosso inconsciente é a parte mais frágil da estrutura mental e o homem não é apenas um ser racional, existem impulsos irracionais que nos influenciam, e estes só estão presentes no nosso inconsciente, o que nos leva imediatamente a atitudes e comportamentos automáticos. Freud refere, na sua obra “Além do princípio do prazer”, de 1920, a compulsão à repetição, que é algo derivado da natureza mais intima dos instintos, onde os impulsos instintuais são suficientemente poderosos para despertar o princípio do prazer, ou seja, são suficientemente poderosos para despertar a possessão de algo satisfatório e quere-lo cada vez mais. Comparando com o tema que estou a tratar é evidente nos vícios a busca do prazer, a presença de impulsos e instintos, que nos remetem à repetição diária dos próprios pela acção inconsciente provocada pela ânsia do “querer mais”.
Os vícios que reconheci como principais (meus) são: o tabaco, o roer as unhas; as necessidades: a masturbação, o alcool o café, os doces e tv. Uma das maneira que pretendo realizar este projecto é recriar várias situações do meu dia-a-dia em que os meus vícios/necessidades estão presentes. Proponho-me a 3 cenários: masturbação, tabaco e televisão; doces e café; álcool e roer unhas. Para concretizar vou utilizar a transparência, como melhor representante dos estados inconscientes e utilizar cenários do dia-a-dia, como por exemplo, mesa de café, cama etc., que não se referem aos vícios e necessidades em si, mas sim os possíveis sitios onde estes ganham forma, dando ênfase à presença representativa do meu corpo utilizando uma fita como limitação desta presença. O processo seguir-se-á na tiragem das formas que remetem ao vício do cenário, por exemplo: cinceiro, comando de televisão, parte sexual de masturbação, chávena de café, garrafa de álcool e copo, etc. Estas componentes e alguns casos representativos do meu corpo e outros materiais mais sensíveis, vão ser recorridos á tiragem do molde com ajuda do alginato, gesso sílico, seguindo-se de uma técnica de vitral – slumping. Consoante isto, para melhor exploração deste tema, pretendo também utilizar outros mídia como o som, de maneira a registar comportamentos automáticos/ sociais, etc., para dar mais ênfase à repetição desses vicios/necessidades.
Contudo, o desenvolvimento deste projecto poderá ter algumas modificações.
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Não será demais dizer que este projecto já teve várias alterações. A mais importante que tenho a referir é que irei juntar todos os vícios e necessidades num só cenário, numa só instalação e isto com ajuda de um vídeo – que vai fazer parte da instalação utilizando uma televisão – , no qual ainda não trabalhei, mas que vais especificar melhor os comportamentos automáticos diários desses vícios e necessidades.
Experiências
Nestas fotos estão algumas experiências que tive desde a ideia inicial do trabalho. Após estas e outras o trabalho foi mudando de rumo. Decidi abandonar a ideia inicial que seria cobrir o corpo com acrílico, não só pelo facto de ser um tanto dispendioso , mas por ter reparado que estaria a complicar o projecto, passando então a evidenciar o que era importante neste trabalho – os vícios, as necessidades e a presença de um corpo. Contudo essa parte de abandono não foi total, porque quando marquei com fita cola a forma que daria o lençol e o acrílico a ideia agradou-me e mantive assim essa marcação. Abandonei também o acrílico e o pvc pois, após algumas experiências falhadas, achei melhor realizar em vidro com a técnica que estou a exercer na disciplina de Vitral – Slumping.
Em relação à necessidade – masturbação, houve algumas experiências relativamente ao tamanho da peça. Havia algumas limitações no forno de vitral e tive que manter um tamanho ideal. Nas peças do tabaco e do comando, houve um pequeno erro e tive que refazer, daí estarem nas experiências. As primeiras peças que fiz só utilizei o gesso cerâmico e não podiam ir ao forno, as outras duas já são com a mistura correcta, com o gesso cerâmico, a silica e a fibra de vidro. Mesmo assim ajudou-me com a repetição da tiragem do molde.
Experiências falhadas, mas produtivas.
Processo De Trabalho (Necessidades e vícios segundo comportamentos automáticos que imediatamente se tornaram inconscientes)
Necessidade: Masturbação
Necessidade: Televisão -> representada pelo comando da mesma
Vício: Tabaco -> representado por várias beatas num cinzeiro
Necessidade: chocolate
Outros processos -> estudos da peça final com as experiências em acrílico e pvc
Outros processos -> Estudos do trabalho final
Muito bem Susana. Agora meter fotos e caso necessário novos comentários relativamente às suas experiências.